Aquecimento global e a Oscilação Sul-El Niño
O que a ciência diz...
A Oscilação Sul-El Niño (ENSO) mostra correlação próxima às temperaturas globais a curto prazo. Contudo, é incapaz de explicar a tendência de aquecimento de longo prazo durante as últimas décadas.
É o El Niño
"Três pesquisadores da Australásia demonstraram que as forças naturais são as influências dominantes sobre o clima, em um estudo recém publicado no prestigiado Journal of Geophysical Research. De acordo com esse estudo pouco ou nada do aquecimento e resfriamento global do final do século XX pode ser atribuído às atividades humanas. A próxima relação entre a ENSO (Oscilação Sul-El Niño) e a temperatura global, como descrita no artigo, deixa pouca margem para qualquer aquecimento impulsionado pelas emissões de dióxido de carbono humanas. Os dados disponíveis indicam que as temperaturas globais futuras continuarão a mudar, principalmente, em resposta aos ciclos da ENSO, à atividade vulcânica e às mudanças solares." (Climate Depot)
O artigo afirma que a ligação entre o aquecimento global e a Oscilação Sul-El Niño (ENSO) é a Influência da Oscilação Sul na temperatura troposférica (McLean 2009). O que o estudo encontrou? De acordo com um de seus autores, Bob Carter,
"A próxima relação entre a ENSO e a temperatura global, como descrita no artigo, deixa pouca margem para qualquer aquecimento impulsionado pelas emissões de dióxido de carbono humanas."
Em outras palavras, eles afirmam que o aquecimento global das últimas décadas pode ser explicado pela atividade do El Niño.
Como eles chegaram nessa conclusão? Eles começaram comparando medições de satélites da temperatura troposférica com a atividade do El Niño. A Figura 1 traça a média anual da Anomalia da Temperatura Global Troposférica (GTTA, linha clara) e do Índice de Oscilação Sul (SOI, linha escura).
Figura 1: Médias anuais do SOI (linha escura) e da GTTA (linha clara), medida pelo satélite MSU, para o período de 1980 a 2006, indicando os principais eventos de atividade vulcânica (McLean 2009).
O Índice de Oscilação Sul não mostra uma tendência de longo prazo (por isso o termo Oscilação), enquanto os registros de temperaturas mostram uma tendência de aquecimento de longo prazo. Consequentemente, eles encontraram apenas uma fraca correlação entre temperatura e SOI. Depois, eles compararam valores derivados do SOI e da GTTA. Isso é feito subtraindo a média anual de um ano da média anual do ano seguinte. Eles fizeram isso para "limpar os ruídos" dos dados. Eles falharam ao não mencionar que isso também remove qualquer tendência linear, o que se torna óbvio após alguns cálculos de aritmética básica. Isso também fica aparente quando comparamos os valores derivados do SOI com os derivados da GTTA, na Figura 2:
Figura 2: Valores derivados do SOI (linha escura) e da MSU GTTA (linha clara) para o período de 1981–2007, após remoção dos períodos com vulcanismo (McLean 2009).
A tendência linear de aquecimento foi removida dos registros de temperaturas, resultando em uma correlação próxima entre as temperaturas filtradas e o SOI. As implicações desta análise saltam aos olhos. El Niño tem um forte efeito de curto prazo na temperatura global, mas não pode explicar a tendência de longo prazo. De fato, esse é o ponto levantado repetidamente neste website (p.ex. - aqui e aqui).
Essa visão é confirmada em outras análises. Uma avaliação dos registros de temperaturas de 1880 a 2007 mostra que uma variabilidade interna, como a do El Niño, tem pouco impacto nas tendências de longo prazo (Hoerling 2008). Por outro lado, elas encontram tendências de longo prazo nas temperaturas da superfície do mar sendo direcionadas predominantemente pelo desequilíbrio energético do planeta.
Houve várias tentativas de filtrar o sinal da ENSO dos registros de temperaturas. Nós examinamos o trabalho de Fawcett 2007 quando abordamos o argumento o aquecimento global parou em 1998. Da mesma forma, Thompson 2008 filtrou o sinal da ENSO do registro de temperaturas. O que ficou foi uma tendência de aquecimento com menos variabilidade:
Figura 3: Registros da temperatura do ar na superfície com a remoção do sinal da ENSO. Correções do HadCRUT por Thompson 2008, e do GISTEMP pela Real Climate.
Foster e Rahmstorf (2011) usaram uma abordagem de regressão linear múltipla para filtrar os efeitos da atividade vulcânica e solar e a ENSO. Eles concluíram que a ENSO, medida pelo Índice Multivariado ENSO (MEI), teve um leve efeito de resfriamento de cerca de -0,014 a -0,023°C, por década, nas temperaturas da superfície e da baixa troposfera, de 1979 a 2010 (Tabela 1, Figura 4). Isso corresponde a 0,045 a 0,074°C de resfriamento pela ENSO desde 1979, respectivamente. Os resultados são basicamente os mesmos quando se usa o SOI em oposição ao MEI.
Tabela 1: Tendências dos componentes de sinal, em °C/década, devido ao MEI, AOD (profundidade óptica do aerossol) e TSI (irradiância solar total) na regressão da temperatura global, para cada um dos cinco registros de temperatura de 1979 a 2010.
Figura 4: Influência de fatores exógenos nas temperaturas globais do GISS (azul) e do RSS (vermelho). (a) MEI; (b) AOD; (c) TSI.
Assim como Foster e Rahmstorf, Lean e Rind (2008) usaram a regressão linear múltipla nos dados de temperaturas, e concluíram que, embora a ENSO seja responsável por aproximadamente 12% do aquecimento global observado, no período de 1955 a 2005, na verdade ela teve um pequeno efeito de resfriamento nesse período. Em geral, de 1889 a 2005, a ENSO poderia explicar somente cerca de 2,3% do aquecimento global observado.
Por último, nenhuma análise de dados deve nos distrair da realidade física do que está acontecendo com o nosso clima. Nas últimas 4 décadas, oceanos em todo o mundo vêm acumulando calor (Levitus 2008; Nuccitelli et al. 2012, Figura 5). A Oscilação Sul-El Niño é um fenômeno interno onde o calor é trocado entre a atmosfera e o oceano, e não pode explicar o acúmulo de calor oceânico global. Isso aponta para um desequilíbrio energético responsável pela tendência de longo prazo (Wong 2005).
Figura 5: Aquecimento no solo, atmosfera e gelo (vermelho), aumento no conteúdo de calor no oceano (OHC) a 0-700 metros (azul claro), aumento no OHC a 700-2.000 metros (azul escuro). Fonte Nuccitelli et al. (2012).
Tanto análises de dados, quanto observações físicas e a aritmética básica, mostram que a ENSO não pode explicar a tendência de longo prazo do aquecimento das últimas décadas. Daí a ironia na conclusão de Bob Carter "A próxima relação entre a ENSO e a temperatura global deixa pouca margem para qualquer aquecimento impulsionado pelas emissões de dióxido de carbono humanas". O que seu artigo prova, na verdade, é que uma vez que você remova qualquer tendência de aquecimento de longo prazo dos registros de temperaturas, sobra pouca margem para qualquer aquecimento.
Refutação intermediária escrita por dana1981
Atualizado em Julho de 2015:
Vídeo-aula, relacionada ao tema, do curso Denial101x - Making Sense of Climate Science Denial
Última atualização em 10 de Julho de 2015 por pattimer. Ver Arquivos
Leitura adicional
NOAA tem um recurso muito útil o ENSO Cycle: Recent Evolution, Current Status and Predictions que mostras as atividades recentes, bem como os modelos com previsões para o futuro próximo.
Translation by claudiagroposo, . View original English version.
Argumento cético...